quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

BATUQUE MUKONGO




(Excerto)

4
Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas de mim
Uíge na Uízi
onde nasci
às cinco da tarde
explodi do ventre da mãe
ao canto do pírulas
mãe materna
mãe terra
mãe sorte
mãe água do rio
rio de outras águas maternas
chovidas ou não
chuva rugido de leão
chuva marca leve das pegadas da gazela
nascido para o mundo
às cinco da tarde
no Uíge na Uízi
quase apagada memória
da longa e única rua
de casas de adobe
de pau a pique
em pique de pau
novo e logo envelhecido
no tragar do salalé
que não sabia de arquitecturas
na linearidade da rua
onde o pau a pique
por fora e por dentro
salpicado de barro vermelho
florido de várias camadas de cal
apaziguou os gritos do parto
às cinco da tarde
de um Novembro sofrido
no ventre de uma bela mulher
Alice com Maria mãe de Deus
dores gemidas na culpa bíblica
porém Maria sempre Alice
a embalar em seus braços exaustos
o novo mundo
ainda envolto
nos líquidos maternos
mas logo a chamar
pela boca da avó materna
os antepassados
da linhagem
para o batuque
tuque norte
tuque sul
tuque este
tuque oeste
em cada ermo do mundo
cada tuque batido
uma bênção solta
no balido do cabrito esgoelado
na pele do boi malhado
preto e branco
preto mukongo
branco beirão
batuque mukongo dos reis antigos
fado do branco vindo dos mares

5
Assim nasci
às cinco da tarde
no Uíge na Uízi
terra onde nasci
catrapim pim pim
que te afastas de mim

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