segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

SUMAÚMA - POESIA




Óbitos
  
O olho do viandante
é rápido
não tanto
quanto os passos
gravados
pela peçonha

na cobra
o morto dança
sortilégios tribais

noites de óbito


Elefantíase
  
Meu embondeiro
a pingar múcuas
por raízes
dispersas em prece

jeitoso
elegante
sinuoso

Meu embondeiro
de espíritos albergados
na fundura do casco
em espera do viajante

Meu embondeiro
meu embondeiro


 O mar

  
Vi-te
trajada furor das ondas
desfeitas
em meus braços

Vi-te
Preenchida de conchas
do meu ouvir
e no paladar
do meu sentir
fostes-te pelo vazar do mar
deixando-me o eco
da eterna solidão
verde-azul



 Cantos

  
Metamorfoseado
na janela quadriculada
da lua
sinto as noites
arrastarem-se

lá fora
o grilo canta
canta
canta
para me adormecer



 Verdades


Sou o mar
a terra
a terra a amar
o barco de guerra

sou o sol
a ave
teu corpo mole
a porta sem chave
o vento
amor
o antigo lamento
o escravo carregador

sou a esperança
a irmandade
a sofrente criança
a falsa liberdade


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